Alta do dólar eleva o preço dos produtos médico-hospitalares

Valorização da moeda americana prejudica a aquisição de insumos hospitalares

O sobe-e-desce do câmbio afeta empresas que usam matérias-primas importadas e as que vendem produtos estrangeiros. Um setor importante onde esses impactos são sentidos é o de produtos médico-hospitalares, que abastece hospitais e consumidores em todo o país

 

Nas últimas semanas, o dólar americano bateu recorde anual ao alcançar o valor de R$ 5,66. A desvalorização da moeda brasileira afeta o poder de compra do país em relação às demais nações do mundo, principalmente nas relações comerciais, sejam as importações ou exportações, o que influencia diretamente no ganho dos investidores.
O aumento das importações eleva os preços finais dos produtos, fazendo com que a população perca poder de compra. Isso afeta tanto empresas que usam matérias-primas importadas quanto as que vendem produtos importados. Um setor importante onde esses impactos são sentidos é o de produtos médico-hospitalares, que abastecem hospitais e consumidores em todo o país.
De acordo com o CEO da Health Clean, importadora do segmento, Arcelino Calado, “com a valorização do dólar, muito se fala no aumento do preço da gasolina, do trigo e das viagens. Esse aumento vai refletir, de forma intensa, na área de produtos médico-hospitalares, em que muito do que se usa, especialmente os itens mais modernos, que oferecem maior conforto ao paciente, vem de fora”.
Aramicy Pinto, da Associação Brasileira de Hospitais (ABH), concorda que a instabilidade do dólar tem trazido uma preocupação muito grande ao setor da saúde. “Há o reflexo tanto nos hospitais quanto nas clínicas de diagnósticos e de diálise. E isso tem um impacto considerável na nossa planilha de custo. Há uma incerteza. E, até mesmo para realizar os pedidos, é preciso ser mais cauteloso. Porque não se sabe onde o dólar vai chegar. Se continua nessa subida fora da realidade ou se vai voltar para um patamar mais aceitável. Nós estamos realmente muito preocupados com essa situação da economia”, analisou.

Frete
Outro fator que reflete em preços mais altos para essas mercadorias é o custo do frete internacional. Segundo a MTM Logix, o valor do frete marítimo na rota Ásia-Brasil para contêineres de 40 pés aumentou mais que o dobro nos primeiros quatro meses deste ano. O frete da China para os Estados Unidos, que influencia diretamente os preços em outras partes do mundo, também vem subindo aceleradamente.
Há uma preocupação na cadeia global de suprimentos de que os preços do transporte marítimo nessa rota possam alcançar US$ 20 mil, e talvez até igualar-se ao preço no pico da pandemia de Covid-19 (US$ 30 mil), permanecendo em alta até 2025.
De acordo com pesquisa realizada em 2022 pelo Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (Ibross), em parceria com a GO Associados, a pandemia de Covid-19 provocou uma inflação alta e generalizada nos hospitais gerais do Sistema Único de Saúde (SUS) pelo Brasil, aumentando em até 528% os preços de materiais médico-hospitalares.
Conforme o levantamento, apenas entre fevereiro de 2020 e abril de 2021, o índice de preços desses itens registrou alta de 161,14%. “Não acredito que iremos alcançar esses índices, mas o dólar e o frete internacional como estão, hoje, elevam os preços dos insumos básicos e de equipamentos necessários para o tratamento de pacientes”, afirma Calado.
Para que a história não se repita, líderes empresariais do setor estão empenhados em buscar soluções que minimizem o impacto sobre os consumidores finais, por meio de negociações estratégicas com seus fornecedores, para que o setor da saúde no país continue se desenvolvendo. “Com o dólar baixo, há o impulsionamento da modernização hospitalar que busca máquinas, equipamentos e insumos médico-hospitalares inovadores e tecnológicos, proporcionando mais conforto e bem-estar para os pacientes”, explica o CEO da Health Clean.

Fatores
Para Caio Juaçaba, CEO do Instituto do Câncer do Ceará (ICC), o impacto da alta do dólar sobre o preço dos produtos médicos e hospitalares é significativo e multifatorial. Desde sempre, o setor da saúde tem enfrentado uma inflação superior à média nacional, um cenário que se agravou ainda mais após a pandemia.
“Coma a alta do dólar, o desafio das empresas que atuam no setor de saúde se amplia. Essas empresas precisam continuamente melhorar a assistência aos pacientes, incorporando novas tecnologias, muitas das quais são importadas e, portanto, diretamente afetadas pela valorização da moeda americana”, observa.
Juaçaba destaca que, nos últimos cinco anos, a inflação crescente aumentou o desafio orçamentário dos governos mundiais e diminuiu o poder de compra dos consumidores. “Como resultado, empresas de saúde, como hospitais e operadoras de planos de saúde, enfrentam um desafio ainda maior de sustentabilidade financeira. Elas precisam lidar com uma demanda crescente, impulsionada tanto pelo aumento da necessidade da utilização de serviços assistenciais, quanto pelo aumento da expectativa de vida. Ao mesmo tempo em que operam com orçamentos mais apertados”, avalia.
Segundo o executivo, para mitigar esses impactos, “as empresas de saúde precisam continuamente se reinventar para manter a excelência. Isso deve ser atrelado à busca por eficiência operacional e à constante negociação com fornecedores, visando garantir a sustentabilidade de toda a cadeia de saúde. “E assim, garantir a qualidade da assistência ao paciente, mesmo em um cenário econômico desafiador”, finaliza.